Caruru de Cosme e Damião: tradição e fé

Foto: Jonas Santana | Divulgação

A tradição do caruru na Bahia é uma manifestação cultural profundamente enraizada que combina elementos religiosos, gastronômicos e culturais. É uma celebração que ocorre principalmente em homenagem aos santos gêmeos, Cosme e Damião, e possui uma rica história que remonta às raízes africanas do estado e à influência do candomblé.

"São Cosme mandou fazer duas camisinha azul..."

A canção tradicional dos santos gêmeos, muitas vezes entoada em celebrações de caruru, evoca a atmosfera festiva que cerca essa tradição na Bahia. No entanto, é importante ressaltar que a canção é apenas um dos muitos aspectos coloridos e significativos dessa celebração (OUÇA ABAIXO).

A raiz afro-religiosa

A tradição do caruru está intimamente ligada à religiosidade afro-brasileira, especialmente ao candomblé. O orixá Ibeji, tem origem africana e é sincretizado com os santos católicos São Cosme e São Damião. Esse sincretismo é um exemplo da maneira como as religiões mantiveram suas tradições religiosas e espirituais, incorporando elementos da fé católica, muitas vezes para sobreviver à perseguição religiosa.

Tradição se estende por todo o mês

A festa de São Cosme e São Damião é celebrada em 27 de setembro, mas a tradição do caruru se estende por todo o mês. Durante esse período, casas, terreiros de candomblé e comunidades se preparam para a festa, que envolve uma série de rituais e atividades religiosas.

A preparação do caruru

O prato central do caruru é um ensopado de quiabo, camarões secos, azeite de dendê, castanha de caju e diversos temperos. A preparação é meticulosa e exige um profundo conhecimento das tradições culinárias afro-baianas. É comum que o caruru seja preparado em grandes panelas e sirva a uma comunidade inteira, reforçando o espírito de compartilhamento e comunhão que permeia a festividade.

Foto: Reprodução | Redes sociais

A distribuição do caruru

Uma parte fundamental da celebração envolve a distribuição do caruru para crianças da comunidade, simbolizando a generosidade e a caridade dos santos gêmeos. O ritual compreende o convite a sete crianças, às quais é oferecido numa bacia que deve ser comido com as mãos, enquanto aos demais frequentadores é servido em pratos.

A perpetuação da tradição

O caruru na Bahia é uma tradição que tem resistido ao longo dos séculos, apesar dos desafios históricos e sociais enfrentados pelas comunidades afrodescendentes. É uma forma de manter viva a cultura e a religiosidade afro-brasileira, transmitindo-as de geração em geração.

Esse costume é muito mais do que uma simples festa culinária, é uma celebração que incorpora história, religião e identidade cultural, onde as comunidades afrodescendentes na Bahia honram suas tradições ancestrais, preservam suas crenças religiosas e fortalecem os laços de solidariedade. É uma manifestação que merece ser celebrada e respeitada como parte integrante da rica cultura baiana.

Qual dia certo de Cosme e Damião para Igreja Católica?

São Cosme e Damião, figuras veneradas na tradição católica, suscitam dúvidas quanto à determinação do dia correto de sua celebração. No Brasil, a festividade é popularmente comemorada em 27 de setembro, ao passo que, para a Igreja, a data oficial é 26 de setembro.

A associação dos irmãos gêmeos à data de 27 de setembro se deve à suposta data de sua morte, o que os tornou padroeiros desse dia. Entretanto, a data oficial de celebração para São Cosme e São Damião passou por revisões.

Até 1969, a data era uniformemente celebrada em 27 de setembro, mas uma reforma no calendário católico antecipou-a para 26 de setembro, com o objetivo de evitar conflitos com a celebração de São Vicente de Paulo, cuja morte é registrada em 27 de setembro.

A confusão em relação à data de morte dos santos também é influenciada por divergências em outras tradições religiosas. Na Igreja Ortodoxa Grega, a data de celebração é 1º de julho, enquanto para os ortodoxos, é 1º de novembro. Adicionalmente, em 17 de outubro, ocorre outra celebração.

Qual é a história de São Cosme e Damião?

A história de São Cosme e Damião remonta à antiguidade cristã, embora haja escassos registros precisos de suas datas de nascimento e morte. Contudo, a tradição sustenta que eram médicos que praticavam a medicina de forma voluntária, recusando qualquer pagamento.

Perseguidos durante o Império Romano por causa de sua fé cristã, foram martirizados e decapitados por ordem do imperador Diocleciano no início do século IV, o que culminou em sua santificação. Suas relíquias estão preservadas em uma igreja em Roma.

Siga o Blog P. da Notícia nas redes sociais e ative as notificações.