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Foto: Jefferson Peixoto | Secom-PMS |
A Lavagem do Bonfim, realizada no mês de janeiro, vai além de uma festa – é um elo vibrante entre espiritualidade e tradição que atrai devotos, turistas e amantes da cultura para uma jornada única e festiva em Salvador. O cortejo, iniciado na Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, no Comércio, em direção à Basílica Santuário Senhor do Bonfim, na Colina Sagrada, ganha vida com a presença marcante das baianas, carregando potes de água perfumada, e os fiéis, todos vestidos de branco, formando um verdadeiro tapete na Cidade Baixa.
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O aroma de alfazema se mistura aos atabaques e cânticos, criando uma atmosfera que transcende o ritual de lavar as escadarias da Igreja do Bonfim, em agradecimento pelas graças alcançadas e renovação de pedidos para o ano que se inicia.
As origens da festa remontam ao século XVIII, com a chegada da imagem de Nosso Senhor Bom Jesus do Bonfim à primeira capital do Brasil, em 1745, trazida de Lisboa (POR) pelo capitão de mar-e-guerra português Theodósio de Lima. A primeira procissão ocorreu em 1754 e teve a presença de grande parte da população da cidade. Com o tempo, adeptos das religiões de matriz africana também passaram a participar da procissão ao lado dos católicos, para saudar Oxalá.
Páscoa
O padre Edson Menezes, reitor da Basílica do Senhor do Bonfim, destaca o papel da Lavagem do Bonfim no calendário de festas populares, ressaltando a contribuição para o diálogo interreligioso. Ele conta uma curiosidade: a festa era celebrada em outra data.
“A Festa do Bonfim, inicialmente, acontecia no tempo da Páscoa, porque a imagem chegou aqui em Salvador em um domingo de Páscoa, no dia 18 de abril de 1745. Depois, como aqui era uma região de veraneio, a festa foi transferida para esse período que hoje acontece, de modo que os veranistas pudessem participar”, explica.
Antigamente, a festa do Senhor do Bonfim ocorria em seguida às de outros dois santos: Nossa Senhora da Guia e São Gonçalo, ocupando assim um mês inteiro. No entanto, completa o padre Edson, a ordem foi modificada: primeiro acontece a festa de São Gonçalo (6 de outubro); em seguida a de Nossa Senhora da Guia (10 de novembro); e, em janeiro, a do Senhor do Bonfim.
A festa do Senhor do Bonfim, para ele, chama atenção para a convivência pacífica entre diferentes crenças. Ele destaca a importância da Lavagem como um fenômeno de pessoas que pensam diferente, mas caminham juntas.
“Às vezes, nós nos tornamos uma ilha ou nos fechamos dentro de muros, e é necessário que esses muros sejam derrubados e nós possamos entender que é preciso conviver com o outro, respeitosamente, cada um professando a sua fé. Então, o dia da Lavagem do Bonfim acontece esse fenômeno de pessoas que seguem o mesmo rumo, professando uma fé diferente, de nacionalidades diferentes e que fizeram opções de vida diferentes”, ressalta.
História
O historiador Murilo Melo pontua a significativa importância histórica da Lavagem e explica o motivo de ser uma data móvel. “Esse cortejo ocorre sempre na quinta-feira, antes do segundo domingo do mês, que é a Festa do Senhor do Bonfim, e após o Dia de Reis, que é muito importante na tradição católica. Em alguns países católicos, inclusive, esse dia tem mais importância do que o Natal. Então o cálculo é feito dessa forma, por isso tem variações de um ano para o outro”, elucida.
Segundo o historiador, a Lavagem do Bonfim “remontou” o século XVIII. “É uma das celebrações religiosas mais antigas do Brasil, e, sem sombra de dúvidas, a mais significativa de Salvador e da Bahia. É a que tem a maior força e apelo popular, e ela conseguiu, ao longo do tempo, quebrar a barreira da regionalidade, e hoje é uma festa nacional”, evidencia.
Tanto que, lembra Melo, símbolos da festa foram propagados a ponto de se tornarem representações da Bahia no Brasil e no mundo, sendo adotados até mesmo por pessoas que vivem fora do estado. Um desses símbolos é a fitinha do Bonfim, com pessoas de diversos países usando o adereço – ou transformando o gradil da Basílica em uma verdadeira cortina colorida de fé e devoção.
“A Lavagem, ao longo do tempo, vai passar por várias transformações, aquisição de novos símbolos, subtração de tantos outros, um organismo vivo. E ela vai se moldando ao seu tempo, se moldando à sociedade que está compondo naquele momento”, completa o historiador.
*Com informações da Secom-PMS
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