segunda-feira, 8 de maio de 2023

Superdotação: uma análise além do QI

Especialista ensina a diferenciar inteligência rara e esforço
Foto: Depositphotos

A superdotação é um tema que desperta grande interesse e curiosidade. Muitas vezes associada a uma inteligência extraordinária, essa condição é caracterizada por talentos e habilidades acima da média, o que pode resultar em um desempenho excepcional, especialmente no ambiente escolar.

No entanto, o Dr. Fabiano de Abreu Agrela, especialista em neurociências e QI com pós-doutorado, afirma que esse tipo de resultado não pode ser atribuído exclusivamente a um alto QI. De acordo com ele, a superdotação pode também ser influenciada pelo esforço em atender às expectativas dos pais.

Muitas vezes, quando uma criança se destaca de forma notável em uma área específica, obtendo excelentes notas ou demonstrando grande criatividade, é natural que os pais suspeitem que ela seja superdotada. Diante disso, é comum que testes de QI sejam realizados para confirmar essa hipótese. Porém, Dr. Fabiano de Abreu alerta que essa abordagem pode, surpreendentemente, ter efeitos contrários aos desejados.

Conforme explica o especialista, as habilidades acima da média podem, na verdade, ser uma tentativa dos filhos de suprir às altas expectativas dos pais. Ao acreditar que seus filhos possuem talentos excepcionais, os pais podem acabar pressionando-os por resultados cada vez melhores. Nesses casos, submeter a criança a um teste de QI que descarte a possibilidade de superdotação pode gerar frustrações e consequências negativas. Portanto, é essencial abordar essa questão com extremo cuidado.

Ele enfatiza a importância de compreender que as habilidades acima da média podem ter motivações diversas. É fundamental não apenas considerar o QI, mas também levar em conta o contexto emocional, social e familiar em que a criança está inserida. Expectativas elevadas podem influenciar o desenvolvimento de habilidades específicas, mas também podem gerar pressão excessiva e impactar negativamente o bem-estar e o progresso da criança.

Ambiente de apoio e estímulo adequado

Além disso, é crucial que pais e educadores estejam cientes de que a superdotação não se resume apenas ao desempenho acadêmico. Existem diferentes formas de manifestação da superdotação, como talento artístico, habilidades esportivas, liderança, criatividade e empreendedorismo. Portanto, é essencial incentivar as crianças a explorarem e desenvolverem seus interesses e habilidades em áreas diversas, proporcionando um ambiente de apoio e estímulo adequado.

No âmbito educacional, é imprescindível que as escolas adotem práticas inclusivas, garantindo que os alunos superdotados recebam um ensino diferenciado e enriquecedor, que estimule seu potencial máximo. Isso pode incluir currículos mais flexíveis, oportunidades de aprendizado avançado, projetos especiais e parcerias com profissionais especializados.


É importante lembrar que cada criança é única e possui um conjunto único de habilidades e potencialidades. Portanto, é essencial responder às necessidades individuais de cada criança, independentemente de serem consideradas superdotadas ou não. O foco deve ser no desenvolvimento integral e no bem-estar emocional de cada estudante.

Para identificar e apoiar adequadamente as crianças superdotadas, é fundamental que os pais e educadores estejam atentos aos sinais, como curiosidade intensa, capacidade de aprendizado acelerado, criatividade excepcional e habilidades avançadas em áreas específicas. Além disso, é significativo  estabelecer um diálogo aberto e empático com as crianças, incentivando-as a expressar seus interesses, necessidades e desafios.

Ao invés de se concentrar exclusivamente no QI, é valioso adotar uma abordagem holística, considerando as múltiplas inteligências e talentos que uma criança possa possuir. Isso permite uma compreensão mais ampla e profunda do seu potencial.

Especialista ensina a diferenciar inteligência rara e esforço
Foto: Divulgação | MF Press

Oportunidade de desenvolvimento e realização

A superdotação não deve ser encarada como um rótulo ou uma pressão adicional sobre as crianças, mas sim como uma oportunidade de desenvolvimento e realização pessoal. É essencial proporcionar um ambiente que estimule a autoconfiança, a autonomia e a exploração de novos desafios.

Além disso, é fundamental que haja um trabalho conjunto entre pais, educadores e profissionais especializados para fornecer suporte e orientação adequados. Essa colaboração pode envolver a criação de programas de enriquecimento, a participação em grupos de estudo ou projetos especiais, o acesso a mentores e recursos específicos, entre outras iniciativas que promovam o desenvolvimento pleno das habilidades superdotadas.

A superdotação é um aspecto complexo e multifacetado que requer uma abordagem individualizada e sensível. É essencial reconhecer e valorizar as habilidades e potencialidades de cada criança, ao mesmo tempo em que se oferece o apoio necessário para que possam alcançar seu pleno desenvolvimento.

O conceito de superdotação vai além do QI e envolve uma combinação de fatores, incluindo motivação, expectativas, apoio emocional e oportunidades adequadas de aprendizado. Ao adotar uma abordagem abrangente, inclusiva e centrada na criança, podemos garantir que todas as crianças tenham a chance de prosperar e alcançar seu máximo potencial, independentemente de serem consideradas superdotadas ou não.

Como identificar se o filho tem superdotação?

O Dr. Fabiano de Abreu afirma que identificar se seu filho é superdotado envolve observar alguns sinais que podem indicar altas habilidades, tais como curiosidade aguçada, excelente memória, facilidade de aprendizado e raciocínio rápido.

No entanto, é fundamental não se basear em eventos isolados, mas sim observar esses sinais no contexto e ao longo do tempo. Essa avaliação contínua ajudará a determinar se seu filho realmente possui superdotação.

Ele destaca que, para ter certeza, é recomendado realizar um teste de QI e comparar o resultado com a média da idade da criança. Porém, é importante ter em mente que em certos casos o teste pode não ser a melhor opção. Um resultado negativo pode causar desapontamento desnecessário e afetar a autoestima da criança.

Portanto, cada caso deve ser analisado individualmente, considerando a possibilidade de realizar o teste durante a adolescência ou até mesmo na idade adulta, quando o cérebro estará mais desenvolvido e o resultado do teste pode ser mais preciso.

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